sábado, 12 de fevereiro de 2011

Um conto de fadas irónico

São 00:46, não tenho telemóvel, não tenho internet. Basicamente, estou impossível de ser contactada ou de contactar.
Não parado olhar para o pequeno relógio quadrado, ouço apenas o Tic-tac dos segundos a passarem, que brevemente se tornam em minutos e depois de algum tempo em horas. O tempo aqui passa devagar, não há nada para se fazer. Reformulando, há alguma coisa para fazer como dormir ou ver Séries. Já vi algumas partes da série que ando “colada”, chama-se “The O.C”.  È uma boa série, um pouco dramática, mas dá para rir um pouco. Por vezes, ao vê-la relembro alguns episodio mais insólitos da minha vida, como aquele em que tomei demasiados comprimidos desfeitos em água ou então aquele em que me riu com as coisas mais estúpidas possíveis. Acho que quase todos nos ri-mos por coisas completamente malucas, que quando pensamos duas vezes, não tem assim tanta graça e aí rimo-nos com mais vontade pela nossa tolice.
Estou com os meus avós, em casa as coisas andam descontroladas. Sou a principal responsável por isso, tenho essa noção, mas também sei que há assuntos que se podem resolver apenas com as palavras certas e não com gestos de agressividade, que mais tarde se tornam em arrependimento e em desculpas que nunca chegaram aos meus ouvidos.
A casa dos meus avós é um pouco fria, mas muito acolhedora. È bom estar aqui. Sentir que alguém se importa, é bom sentir amor. Amanha já sei como vai ser, a minha avó vai-me acordar, vai-me trazer o maravilhoso (e usual) pequeno-almoço á cama. Ela entra no quarto e diz “Filipa, são horas de te levantares, já é tarde ! “ a sua voz meiguinha acorda-me, mas como é tão suave, abro ligeiramente os olhos para ver em que números param os ponteiros e penso “são 10h da manha e é tarde?” e volto a fechar os olhos. Passados 5 minutos a porta do quarto volta a abrir-se e o cheiro a torradas e a café com leite invade toda a atmosfera do quarto e entra pelas minhas narinas. Pareço um zombie, 50% vontade de comer e 50% com vontade de dormir, então satisfaço ambas as vontades e como de olhos fechados. È aí que a minha avó se senta ao pés da cama e não me diz nada. Apenas me observa a comer e sorri para mim enquanto fico com a boca cheia de migalhas. Depois, mas só depois de ter terminado o meu pequeno-almoço ela leva cuidadosamente o tabuleiro para a cozinha e volta a sentar-se aos meus pés para conversarmos. È inevitável, ela adivinha sempre o que se passa, o que me vai na alma e no coração. E muito não sabe ela. Às vezes ela faz-me rir com toda a sua ingenuidade, outras vezes, põe-me uma lágrima no canto do olho, mas é aí que a admiro, ela chora comigo e ás vezes, quando choramos, olhamos uma para a outra e rimo-nos e tudo volta a ficar bem.
O meu coração (se assim o posso chamar) está mais despedaçado do que um vaso que caco no chão. Nele vagueia apenas uma palavra “Saudade”.
Tenho saudades dos meus amigos, dos meus colegas, dos meus pais, do namorado… Perdi tudo isto e já o tive com tanta facilidade. “A vida perfeita”, o “conto de fadas” já o tive, já o vivi. Dava tudo para o voltar a ter, mas nada é como deveria ser ou como gostaríamos que assim fosse. Já alguma vez imaginas-te a quantidade de vezes que disseste “Gostava tanto que “isto” acontecesse”? já alguma vez imaginas-te a quantidade de vezes que disseste “Como eu queria que “isto” me acontecesse”? e as vezes em que justificas-te todas essas perguntas , mesmo que não as tenhas pensado por ti…
Será que isto é uma fase na minha vida, será que é suposto eu viver ao contrário?! Normalmente, as coisas boas vem no final, para ter um gosto especial, de glória, de vitória… No meu caso foi um pouco ao contrário.. Tudo era perfeito, amigos, pais, namorado… e agora, está tudo um caos ! Será que me estou a rebaixar ou a lamentar a minha irónica sorte? Será que devo olhar para tudo e pensar “estou apenas a aprender.. tenho 21 anos”… exacto !!! Tenho 21 anos… metade da lição já deveria (supostamente) saber, certo? Às vezes sinto-me como o Nemo (aquele peixinho do filme), só quero que o meu pai me encontre e me leve para casa, mas outras vezes sinto-me poderosa, potente e extremamente viva, sinto-me dona da cidade em que nada nem ninguém me pode deter… Será que poderia existir aqui algum balanço ? Género de Nemo independente, que sai com o pessoal (o resto dos peixinhos) e quando precisa (ou não) o pai vai lá e trá-lo em segurança para casa… Como chego a este meio termo? Não sei.. Sinto-me sonâmbula da minha própria vida. Às vezes deixo-me simplesmente levar, sem forças para remar ou para dizer “não” com medo de rejeição.. Serei assim tão fraca?! Eu, que no passado lutei contra tudo e todos para ficar com um rapaz que depois o deixei ir sem ter um pingo de vergonha… Lutei contra família e amigos (alguma barreira maior numa adolescente de 15 anos?). Ei…. Espera lá, eu tinha 15 anos e lutei com unhas e dentes por alguma coisa que realmente acreditava e agora com 21 era suposto ser mais forte, certo? Porque não sou? Porque me deixo abater por qualquer barreira? Porque não consigo bater o pé e fazer birra como fiz com 15 anos? Levei aquilo demasiadamente a sério ou agora é que não me ralo com mais nada? Tantas perguntas e não sei se encontro respostas… Era preferível ir para o Rio Douro pescar um tubarão do que ter alguma resposta concreta sobre a vida, ou pelo menos sobre a minha vida. Nada é fácil, nada devia ser como é. O problema é que eu já olhei pela janela do meu carro e já pensei “o que me falta? Tenho tudo. Uns pais que me amam, um namorado que me ama, a escola está bem (não sou nenhuma expert na escola, mas não me posso queixar)…” Não é fácil para quem já teve algo tão perfeito ver que tudo se foi e que não voltará.. Se calhar, o meu problema é continuar á espera de braços cruzados á espera que tudo venha ter a mim, sem lutar, sem sofrer…
Neste momento da minha vida, eu encontro-me a lutar, encontro-me a sofrer, mas pelas coisas erradas. Quer dizer… Não é que seja um erro, mas não é saudável. Como eu disse á pouco á diversas formas de se conseguir chegar a um bom porto.. apenas não estou a usar as ferramentas correctas para o conseguir. Só pode ser isso! È isso !!! Acho que consegui pescar um tubarão no Rio Douro !
De que adianta desejar ganhar o euro milhões se não jogo?  Basicamente a minha vida é isto, resume-se a uma simples pergunta ... “De que me adianta procurar a felicidade se estou sentada a vê-la passar á minha frente?”. OK ! acabei mesmo agora de procurar outro tipo de ferramentas, umas mais úteis. Talvez por querer usar umas ferramentas que não sei usar é que não chego a lado nenhum. Agora sei o que fazer. Agora sei pelo que vou lutar. Tudo está na sua caixa, na sua prateleira. Aqui vou eu, aqui vai a rapariga do conto de fadas irónico! Vou sem olhar para traz, vou um pouco egocêntrica (talvez), mas o que importa é que vou !

(escrito no dia 10-2-2011)



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